O presente artigo é parte de uma tese em construção, que tem como tema as relações periféricas em escolas de periferia da periferia: escolas lÃquidas. Neste fragmento, faz-se a análise de entrevistas realizadas com docentes postas à disposição ou recém-nomeadas, que foram designadas para trabalhar numa escola, na região metropolitana da capital do Estado do Rio Grande do Sul–Brasil. Entre outros aspectos que chamam a atenção nesse evento de retirada de voz/escolha das profissionais de educação, é que a maioria delas tem um corpo que foge dos padrões desejados pela sociedade patriarcal-capitalista, pois não atendem a quesitos como o da (re)produção. Em meio a essa situação de regeneração ou penitência, as professoras assumem comportamentos estranhos à função. Das 18 professoras ouvidas, 13 revelam desencanto com o não lugar-escolar, e poucas acreditam num ensino à população que atenda crianças pobres. Diante disso, conclui-se, a partir das contribuições de Bauman, que a docência, marco da intelectualidade feminina, de acordo com os Estudos Culturais, não libertou as mulheres de normas masculinas e capitalistas que hierarquizam o humano. Se, no princÃpio, “aquelas†que invadiam o espaço público (dos homens) foram jogadas à s fogueiras, na atualidade, muitas docentes estão sendo condenadas à s escolas lÃquidas e, quando optam por “cruzar os braçosâ€, atendem ao sistema. Trata-se de uma disfarçada manobra que dribla a contraconduta docente, promove a contenção do feminino e mantém periféricos na periferia.