O presente trabalho estuda a representação social da Língua Brasileira de Sinais (Libras) por sujeitos surdos bilíngues, com o intuito de conhecer a importância atribuída a essa língua por esses sujeitos na construção de uma identidade positiva. A história da educação de surdos é permeada pelos dilemas das di ferentes abordagens existentes até os dias atuais. São eles: o oralismo, a Comunicação Total e o bilinguismo. A abordagem oralista visa a fala e rejeita a Libras como sendo um sistema de comunicação válido para os surdos; a Comunicação Total visa a comunicação em si, não importando o uso e nem a forma de comunicação. Usam-se desenhos, mímicas, fala, sinais, dra-matizações, dentre outros. Já a abordagem bilíngue visa que a pessoa surda conheça a Língua Portuguesa na leitura e na escrita principalmente, estando a oralização a critério do desejo de cada um bem como o domínio da Libras paralelamente. Cada abordagem apresenta uma visão diferenciada do conceito de língua e de pessoa surda. À luz da Teoria das Representações Sociais -que se apresenta corno uma importante linha teórica situada em conceitos sociobiológicos e conceitos psicológicos -busca-se, também, discutir as relações entre cidadania real e o aprendizado dessa língua, pois, vivendo em uma sociedade majoritariamente não falante da Libras, os sujeitos surdos estão cotidianamente marcados pela exclusão. Adotou-se entrevista semiestruturada, realizada com 16 surdos profundos bilaterais, adultos, ativos profissionalmente, bilíngues e com nível de escolaridade de Ensino Médio ou Superior. As entrevistas foram realizadas em Libras, filmadas e, posteriormente, traduzidas para a Língua Portuguesa. O material colhido foi tratado como um corpus de discursos. Os resultados apontam como principais categorias de análise: a) A Libras, a oralização e a escola "inclusiva"; b) A Libras, o surdo e a família; c) A educação bilíngue e a inserção social positiva da pessoa surda; d) A Libras, o desenvolviment o do pensamento surdo, a liberdade e a identidade social; e) A oralidade e o "surdo papagaio"; f) O surdo e o uso do intérprete como "recurso pedagógico"; g) A Libras, o aprendizado da Língua Portuguesa, seus direitos e deveres; h) A pessoa surda, o preconceito e a Libras. Infere-se que os sujeitos pesquisados atribuem grande importância ao domínio da Libras como fator de cidadania, sendo este essencial a própria formação da comunidade surda, pois modifica sua autopercepção identitária, atribuindo um valor positivo à condição surda.