O artigo aborda o cuidado infantil em famílias chefiadas por mulheres no âmbito do acompanhamento recebido em um serviço de saúde mental, durante o primeiro ano da pandemia da Covid-19. Com base em entrevistas semiestruturadas com mulheres, encontramos que a organização do cuidado infantil está fortemente marcada pelos dispositivos de gênero, como propostos por Zanello (2018), o que gera importante sobrecarga para as mulheres, a qual se intensificou durante a pandemia. As mulheres contam principalmente com o apoio das próprias mães. Já a participação masculina, envolvendo pais e tios, é secundária e ficou mais fragilizada. O acesso a políticas públicas de setores como saúde, educação e assistência social é precária e frequentemente coexiste com a procura por serviços privados. O programa “Brincando em Família” é vivenciado como um espaço de cuidado para as mulheres e suas crianças, o que contribui para a remalhagem dos vínculos familiares e para produzir reflexões sobre o que inicialmente é trazido como queixa, inclusive a tendência a patologizar os comportamentos das filhas que não correspondem aos scripts de gênero convencionais. O trabalho contribui para pensar sobre o cuidado em saúde mental ampliado junto a famílias chefiadas por mulheres em espaços que contemplem as dimensões psicossociais.
This article addresses child care in families headed by women within the scope of the care received at a mental health service during the first year of the Covid-19 pandemic. Based on semi-structured interviews with women we found that the organization of child care is strongly marked by gender devices, as proposed by Zanello (2018), which generates an important overload for women, which intensified during the pandemic. Women rely mainly on the support of their own mothers. The male participation, involving fathers and uncles, is secondary and became more fragile. Access to public policies in sectors such as health, education and social assistance is precarious and often coexists with the demand for private services. The Brincando em Família program is experienced as a space of care for women and their children, which contributes to the reworking of family ties and to produce reflections on what is initially brought as a complaint, including the tendency to pathologize behaviors of daughters that do not correspond to conventional genre scripts. The work contributes to think about extended mental health care with families headed by women in spaces that include psychosocial dimensions.