Este estudo aborda o jogo da flutuação das representações e dos discursos em textos cinematográficos e em textos surdos: em um primeiro momento, investigo como a alteridade surda é narrada/produzida/inventada/incluída e excluída em filmes que focalizam a surdez e os/as surdos/as e, em um segundo, analiso como ocorrem as interpelações dos filmes em um grupo de sujeitos surdos universitários. O alicerce teórico e as ferramentas metodológicas estão nos Estudos Culturais e no pensamento de Michel Foucault, a partir dos quais utilizo os entendimentos de discurso, representação, cultura, pedagogia cultural, interpelação, produção de significados, entre outros. A perspectiva analítica dos Estudos Culturais toma a cultura e os artefatos culturais como práticas de significação, não fazendo distinção entre alta-cultura e baixa-cultura. Michel Foucault oferece ferramentas teóricas e metodológicas com as quais podemos analisar o discurso como prática. O resultado das análises dos textos cinematográficos é apresentado por meio de um conjunto de lições, as quais foram organizadas pela recorrência das representações e dos discursos que compõem os filmes. Não se trata de verificar o que está “por trás” do que é dito, nem tampouco proceder a uma análise “comparativa”, supondo-se que poderiam existir melhores ou piores formas de narrar a surdez e os/as surdos/as. Interessa, isso sim, entender como a surdez e os/as surdos/as são narrados/descritos/controlados/normalizados/excluídos ou incluídos pelas narrativas ouvintes sobre a alteridade surda, bem como colocar sob suspeita os saberes que aprisionam os sujeitos surdos em posições, territórios e significados que justificam o controle, a regulação e o governo de seus corpos. Os textos surdos, por sua vez, foram analisados a partir daquilo que os/as surdos/as universitários/as dizem quando são interpelados pelos filmes que assistimos durante nossos encontros. Inverter epistemologicamente a ordem de quem fala, entendendo como ocorrem as negociações e os jogos de poder, como se legitimam certas perspectivas e se excluem outras, pode ser um caminho para entendermos a complexidade que se apresenta quando falamos pelo outro, quando o narramos e o inventamos a partir das marcas da normalidade.