A tonalidade afetiva do temor e o extermínio do oprimido em Solaris: reflexões existenciais, fenomenológicas e decoloniais

Revista da Defensoria Pública do Estado de São Paulo

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ISSN: 2674-9122
Editor Chefe: Guilherme Krahenbuhl Silveira Fontes Piccina
Início Publicação: 30/09/2019
Periodicidade: Semestral
Área de Estudo: Ciências Humanas, Área de Estudo: Antropologia, Área de Estudo: Ciência política, Área de Estudo: Psicologia, Área de Estudo: Sociologia, Área de Estudo: Ciências Sociais Aplicadas, Área de Estudo: Direito, Área de Estudo: Serviço social

A tonalidade afetiva do temor e o extermínio do oprimido em Solaris: reflexões existenciais, fenomenológicas e decoloniais

Ano: 2024 | Volume: 6 | Número: 2
Autores: ALVES DA FROTA. Hidemberg.
Autor Correspondente: ALVES DA FROTA. Hidemberg. | [email protected]

Palavras-chave: Solaris, temor, colonialidade

Resumos Cadastrados

Resumo Português:

Em prol de uma Criminologia de bases existenciais, fenomenológicas e decoloniais, este artigo acadêmico trouxe a lume reflexões em torno de Solaris, romance de 1961 de Stanislaw Lem. Almejou-se compreender a manifestação, no romance Solaris, (a) da tonalidade afetiva do temor, (b) de modos de ser restritivos e controladores, (c) dos dilemas da escolha e (d) do projeto existencial no contexto do ser-em-situação e da opressão de matriz colonial. Do ponto de vista metodológico, realizou-se uma pesquisa do tipo bibliográfica, utilizando-se, como fontes de pesquisa, livros-texto, capítulos de livro, artigos acadêmicos e obras literárias no campo da prosa, a maioria da bibliografia consultada disponíveis em língua portuguesa. O acervo bibliográfico correspondeu quer ao estado da arte da Psicologia Fenomenológico-Existencial e da Fenomenologia brasileiras, quer a clássicos da literatura mundial do campo fantástico no século XX. Solaris propicia reflexão acerca da condição humana, em circunstâncias em que irrompe a tonalidade afetiva do temor, quando o humano, por considerar a sua existência ameaçada, assume atitudes pautadas pela tentativa de manter o controle diante do caráter indeterminável do devir e de se antecipar a riscos (reais ou imaginados) à própria existência, deixando de lado, por vezes, preocupações com a existência alheia, sobretudo daquela da qual provém a ameaça real ou imaginada. Solaris consiste, ainda, em alegoria sobre a impossibilidade de o humano realizar escolhas que não tragam consigo o ônus de abdicar de outras possibilidades, e concerne à presença constante do imponderável e da incerteza, uma vez que não sabe, de modo pleno, as consequências, para si e para os demais, do rumo que proporcionará ao seu projeto existencial. Por fim, Solaris desperta o leitor para a violência a que são submetidos os subalternizados e inferiorizados pelo colonizador-opressor, o qual a eles impõe um modo de pensar, sentir e agir esculpido pela colonialidade, conferindo-lhes o lugar da não existência, como se fossem seres de desprovidos de valia. Nessa terceira proposta de interpretação do romance de Lem, Solaris nos adverte para a opressão de matriz colonial que, de forma incansável, engendra meios de controlar e dominar não só seres etiquetados como sub-humanos, invisibilizados como não existências, mas também o mundo natural de forma geral, inclusive a flora, a fauna, as águas e a totalidade dos seres sencientes não humanos.