Em novembro de 2017, depois de 37 anos, encerrou-se o governo de Robert Mugabe no Zimbábue. A mudança no poder é um marco na história do país e do Continente Africano como um todo. O objetivo do artigo é analisar os fatores que condicionaram a queda do poder de Mugabe e as possíveis mudanças no contexto político do país. Parte-se do pressuposto de que as relações externas do país, aliadas às divisões internas do partido, condicionaram a crise que culminou com o fim do governo de Mugabe. A postura de não interferência nos assuntos domésticos tanto dos vizinhos africanos, quanto do principal parceiro econômico do Zimbábue, a China, da mesma forma que possibilitou a manutenção de Mugabe no poder ao longo de quase quatro décadas, também propiciou que a transição para Mnangagwa, assistida pelos militares, ocorresse sem maiores intercorrências. As disputas internas da ZANU-PF, por sua vez, alimentadas pela necessidade cada vez maior de que Mugabe indicasse um sucessor, gradualmente, foram enfraquecendo o poder de Mugabe e criando novas alianças. A mudança na figura de liderança do país, todavia, não parece indicar alterações significativas nas condições políticas do país, nada obstante algumas modificações na condução da economia possivelmente ocorram.
In November 2017, after 37 years, Robert Mugabe’s government ended in Zimbabwe. This change in power is a milestone in the history of the country and of the African continent as a whole. The aim of the present article is to analyze the factors that conditioned Mugabe’s fall from power as well as possible changes in the country’s political context. It is assumed that the country’s external relations, combined with the internal divisions of the party, have conditioned the crisis that culminated in the end of Mugabe’s rule. The stance of non-interference in domestic affairs of its African neighbors and Zimbabwe’s main economic partner, China, had enabled Mugabe to remain in power for nearly four decades, but also allowed that the transition to Mnangagwa, assisted by the military, occurred without major intercurrences. ZANU-PF’s internal disputes, fueled by the increasing need for Mugabe to indicate a successor, gradually weakened Mugabe’s power and created new alliances. The change in the leading figure of the country, however, does not seem to indicate significant changes in the political conditions of the country, although some changes in the conduct of the economy might occur.