Vivemos numa época marcada pela convivência tensa entre duas tendências aparentemente opostas: de uma lado o historicismo — entendendo essa categoria no seu sentido específico de respeito rigoroso às diferenças históricas e culturais —, do outro a dissolução das fronteiras nacionais e a implantação do capitalismo na sua fase de globalização e internacionalização do capital. O respeito às idiossincrasias locais (regionais, culturais, “étnicas” e até “nacionais” compreendendo este termo em um sentido diverso ao do Estado-Nação) levam muitas vezes a movimentos fundamentalistas que com sua irracionalidade procuram a autoafirmação do Eu-Nação via extermínio do Outro. Na outra vertente a Globalização nivela as diferenças, impõe um modelo homogeneizado e pasteurizado de “cultura” transnacional onde a tradição é reduzida a uma simples coleção de imagens. Tudo vira pastiche; assim por exemplo Veneza vira uma caricatura de si mesma — que poderia muito bem existir ao lado — ou dentro — de Sydney, Miami etc.