"Parricídio e matricídio são crimes perseguidos e execrados desde os tempos mais longínquos. Apesar de relativamente infrequentes na realidade fática, esses crimes primordiais da teoria psicanalítica fazem parte constante do imaginário popular e influenciam de diversas maneiras as reações dos indivíduos. O objetivo deste trabalho é analisar a influência da realidade psíquica nos julgamentos de dois casos de parricídio e matricídio em que os jurados inocentaram os filhos mesmo após reconhecer que foram eles que mataram seus pais. A psicanálise mostra que parricídio e matricídio são desejos inconscientes universais na formação estrutural do sujeito neurótico. Esse desejo reprimido é base dos sentimentos de culpa e necessidade inconsciente de punição, na realidade psíquica dos jurados. O resultado desse conflito pode dificultar a condenação dos verdadeiros responsáveis pela realidade dos fatos. Mecanismos inconscientes identificados incluem a negação do crime, a identificação com o acusado e a justificação do ato por racionalização. Somente através do reconhecimento de que fatores inconscientes determinam significativa parcela de nossas escolhas é que poderemos compreender as decisões contraditórias que não infrequentemente são observadas no tribunal do júri e tornam o ideal da justiça ainda mais impossível.".