Neste artigo, que se desenvolve no âmbito da filosofia da educação matemática, estabelecemos diálogo com perspectivas discursivas pós-metafísicas constituídas, sobretudo, nos campos da filosofia e da linguística aplicada. O nosso propósito é investigar estratégias que poderiam viabilizar e dar visibilidade a uma perspectiva transgressiva de ação educativa escolar. Tal perspectiva se pauta em uma ética política desconstrutiva que se desenvolve através da realização do que estamos aqui denominando práticas (in)disciplinares de problematização cultural. Essa problematização incide sobre duas questões centrais, a saber: a desconstrução da matemática como disciplina escolar e a desconstrução da concepção de educação escolar como transmissão ou apropriação individual de conhecimentos disciplinares. Num primeiro momento, fazemos breves comentários acerca dos desdobramentos político-epistemológicos da ética subjacente à concepção euclidiana de matemática. Em seguida, com base sobretudo em ideias do último Wittgenstein, de Foucault e Derrida, desenvolvemos um modo pluralista de ver e ler matemáticas na realização de práticas socioculturais em diferentes contextos de atividade humana. Esse modo (in)disciplinar de praticar matemáticas é ilustrado pela desconstrução do conceito matemático de ordem. Num segundo momento, inspirando-nos no rastro sugerido por Wittgenstein de que aprender é aprender a ver de outras maneiras, procuramos produzir significação preliminar à prática de desconstrução da educação escolar como desvio cultural e como processo neutro de transmissão ou apropriação de conteúdos disciplinares.
In this article, developed in the field of the philosophy of mathematics education, we establish a dialogue with post-metaphysical discursive perspectives mainly constituted in the fields of philosophy and applied linguistics. Our purpose is to investigate strategies that could enable and provide visibility to a transgressive perspective of school education. This perspective is guided exclusively by deconstructive political ethics developed through what we call (in)disciplinary practices of cultural problematization. This problematization focuses on two issues, namely: the deconstruction of mathematics as a school subject and the deconstruction of the conception of school education as transmission or individual appropriation of disciplinary knowledge. At first, we make brief comments on the political and epistemological unfolding of the ethics behind the Euclidean conception of mathematics. Then, based mainly on Wittgenstein’s, Derrida’s and Foucault’s ideas, we develop a pluralistic way of seeing and reading mathematics in the performance of socio-cultural practices in different contexts of human activity. This (in)disciplinary way of practicing mathematics is illustrated by the deconstruction of the mathematical concept of order. Secondly, drawing inspiration from the trail suggested by Wittgenstein, that learning is learning to see in other ways, we try to produce preliminary significance to the practice of deconstruction of school education as cultural bias and as a neutral process of transmission or appropriation of disciplinary contents.
