Os ventos do norte não movem os moinhos? Racismo epistêmico a matemática é branca, masculina e europeia

Ano: 2023 | Volume: 25 | Número: 2

Autores: M. A. Silva

Palavras-chave: Currículos de Matemática, Livros Didáticos de Matemática, Ensino Médio, Interseccionalidade, Análise do Discurso

Resumo Português:

Este artigo aborda o tema interseccionalidade na educação matemática para explicitar o racismo epistêmico existente. Por intermédio da apresentação de trechos de livros didáticos de matemática do ensino médio brasileiro, mais especificamente as páginas que tratam da história da matemática, argumenta-se que, nesses livros analisados, a matemática é europeia, masculina e branca, pois a narrativa construída pelos elaboradores desses livros reproduz a lógica eurocêntrica do conhecimento matemático, apagando outras histórias da matemática e criando uma narrativa muito específica sobre a construção do conhecimento humano. As análises foram feitas tendo a interseccionalidade como conceito fundamental, pois levou-se em consideração múltiplos aspectos, como gênero, etnia, raça e nacionalidade. A análise do discurso foi a ferramenta analítica que possibilitou olhar para os livros didáticos de matemática e descrever como ocorre a materialização dos discursos sobre o ensino e a aprendizagem, produzindo uma história sobre o ensino da matemática do nosso tempo, sobre o que é idealizado e o que é invisibilizado. Foram analisadas as oito coleções aprovadas no PNLD 2018, totalizando 24 volumes. Utilizando-se o software Atlas TI, foram investigadas seis características: (i) o conteúdo abordado; (ii) o continente de origem daquele personagem; (iii) se era uma citação em forma de texto ou se, além do texto (nome do personagem), havia também uma figura ou foto; (iv) gênero; (v) raça; (vi) nome. Foram encontradas 554 menções à cientistas e matemáticos, mostrando que, nos livros analisados, a matemática é construída por homens, brancos e europeus.

Resumo Inglês:

This article addresses the topic of intersectionality in mathematics education to explain existing epistemic racism. Through the presentation of excerpts from Brazilian high school mathematics textbooks, more specifically the pages that deal with the history of mathematics, it is argued that, in these books analyzed, mathematics is European, male and white, as the narrative constructed by the The creators of these books reproduce the Eurocentric logic of mathematical knowledge, erasing other histories of mathematics and creating a very specific narrative about the construction of human knowledge. The analyzes were carried out with intersectionality as a fundamental concept, as multiple aspects were taken into account, such as gender, ethnicity, race and nationality. Discourse analysis was the analytical tool that made it possible to look at mathematics textbooks and describe how the materialization of discourses about teaching and learning occurs, producing a story about the teaching of mathematics in our time, about what is idealized and what is invisible. The eight collections approved in PNLD 2018 were analyzed, totaling 24 volumes. Using the Atlas TI software, six characteristics were investigated: (i) the content covered; (ii) the continent of origin of that character; (iii) whether it was a quote in text form or whether, in addition to the text (character's name), there was also a figure or photo; (iv) gender; (v) race; (vi) name. 554 mentions of scientists and mathematicians were found, showing that, in the books analyzed, mathematics is constructed by men, white and European.

Resumo Espanhol:

Este artículo aborda el tema de la interseccionalidad en la educación matemática para explicar el racismo epistémico existente. A través de la presentación de extractos de libros de texto de matemáticas de secundaria brasileños, más específicamente de las páginas que tratan de la historia de las matemáticas, se argumenta que, en estos libros analizados, las matemáticas son europeas, masculinas y blancas, como la narrativa construida por los creadores. Muchos de estos libros reproducen la lógica eurocéntrica del conocimiento matemático, borrando otras historias de las matemáticas y creando una narrativa muy específica sobre la construcción del conocimiento humano. Los análisis se realizaron teniendo como concepto fundamental la interseccionalidad, ya que se tuvieron en cuenta múltiples aspectos, como el género, la etnia, la raza y la nacionalidad. El análisis del discurso fue la herramienta analítica que permitió mirar los libros de texto de matemáticas y describir cómo ocurre la materialización de los discursos sobre la enseñanza y el aprendizaje, produciendo un relato sobre la enseñanza de las matemáticas en nuestro tiempo, sobre lo idealizado y lo invisible. Se analizaron las ocho colecciones aprobadas en el PNLD 2018, totalizando 24 volúmenes. Utilizando el software Atlas TI, se investigaron seis características: (i) el contenido cubierto; (ii) el continente de origen de ese personaje; (iii) si se trataba de una cita en forma de texto o si, además del texto (nombre del personaje), también había una figura o fotografía; (iv) género; (vi) raza; (vi) nombre. Se encontraron 554 menciones de científicos y matemáticos, lo que demuestra que, en los libros analizados, la matemática es construida por hombres, blancos y europeos.

Resumo Francês:

Cet article aborde le thème de l’intersectionnalité dans l’enseignement des mathématiques pour expliquer le racisme épistémique existant. À travers la présentation d'extraits de manuels de mathématiques du lycée brésilien, plus précisément des pages qui traitent de l'histoire des mathématiques, il est avancé que, dans ces livres analysés, les mathématiques sont européennes, masculines et blanches, comme le récit construit par les créateurs. Certains de ces livres reproduisent la logique eurocentrique de la connaissance mathématique, effaçant d’autres histoires des mathématiques et créant un récit très spécifique sur la construction de la connaissance humaine. Les analyses ont été réalisées avec l'intersectionnalité comme concept fondamental, car de multiples aspects ont été pris en compte, tels que le genre, l'origine ethnique, la race et la nationalité. L’analyse du discours a été l’outil analytique qui a permis d’examiner les manuels de mathématiques et de décrire comment se produit la matérialisation des discours sur l’enseignement et l’apprentissage, produisant ainsi une histoire sur l’enseignement des mathématiques à notre époque, sur ce qui est idéalisé et ce qui est invisible. Les huit collections agréées au PNLD 2018 ont été analysées, totalisant 24 volumes. À l’aide du logiciel Atlas TI, six caractéristiques ont été étudiées : (i) le contenu couvert ; (ii) le continent d'origine de ce personnage ; (iii) s'il s'agissait d'une citation sous forme de texte ou si, en plus du texte (nom du personnage), il y avait également une figure ou une photo ; (iv) le sexe ; (v) la race ; (vi) nom. 554 mentions de scientifiques et de mathématiciens ont été trouvées, montrant que, dans les livres analysés, les mathématiques sont construites par des hommes, blancs et européens.