Ainda é comum, no imaginário das pessoas, a perspectiva segundo a qual os sofrimentos e adoecimentos dos professores são decorrentes de
uma fragilidade desses profissionais frente às demandas da docência. Considerando que é necessário superar esse olhar que, em alguma
medida, expressa uma culpabilização dos próprios docentes pelas dores que lhes acometem, o presente artigo tem como objetivo discorrer
sobre a dimensão ético-política do sofrimento de professores de Instituições de Ensino Superior (IES). Tomando como referência,
principalmente, os estudos de Sawaia (2006, 2014), observa-se que o aprofundamento das políticas neoliberais no campo da educação produz
mecanismos opressores que geram sofrimento, medo e humilhação, precarizam a subjetividade docente, deixando esses profissionais
vulneráveis aos processos de adoecimento. Haja vista se tratar de afetos delineados socialmente, as dores sentidas pelos professores
decorrentes da atividade docente devem ser caracterizadas como sofrimento ético-político. Como contribuição, este ensaio busca reforçar a
compreensão segundo a qual, embora sentido pelo professor, o sofrimento derivado do trabalho docente é um afeto sócio-historicamente
situado, produzido a partir das relações de dominação características da racionalidade neoliberal, portanto, não tem sua gênese no sujeito que
sofre.
It is still common, in people's imagination, the perspective according to which teachers' suffering and illnesses are the result of these
professionals' fragility when faced with the demands of teaching. Considering that it is necessary to overcome this view that, to some extent,
expresses the blaming of teachers themselves for the pain that affects them, this article aims to discuss the ethical-political dimension of the
suffering of teachers at Higher Education Institutions (HEIs). Taking mainly the studies of Sawaia (2006, 2014) as a reference, it is observed that
the deepening of neoliberal policies in the field of education produces oppressive mechanisms that generate suffering, fear and humiliation,
making teaching subjectivity precarious, leaving these professionals vulnerable to illness processes. Given that these are socially defined affects,
the pain felt by teachers resulting from teaching activities must be characterized as ethical-political suffering. As a contribution, this essay seeks
to reinforce the understanding according to which, although felt by the teacher, the suffering derived from teaching work is a socio-historically
situated affect, produced from the relations of domination characteristic of neoliberal rationality, therefore, it does not have its genesis in the
subject who suffers.