O objetivo deste artigo é compreender como as relações de poder se constituem na emergência do sexismo em aulas de Ciências do Ensino Fundamental a partir do uso do humor como estratégia pedagógica. A metodologia consistiu em uma bricolagem engendrada por elementos da etnografia educacional e da análise de discurso. As ferramentas da etnografia utilizadas foram a observação imersiva, a descrição densa e a entrevista semiestruturada. Uma turma de oitavo ano foi acompanhada por dez meses e, em dezoito aulas, o/a docente lançou mão do humor como estratégia pedagógica reverberando em acontecimentos marcados pelo sexismo. A descrição densa dessas aulas passou por uma leitura frisada por princípios da análise do discurso de inspiração foucaultiana. Observou-se que, uma vez instaurado nas aulas, o sexismo promove uma série de afetações sobre os sujeitos e relações de poder marcadas pelo dimorfismo sexual, a rivalidade entre o feminino e masculino e a superioridade do masculino sobre o feminino. As condições inerentes a manifestações do sexismo estão atrelados à ação docente e os efeitos produzidos nos sujeitos escapam do controle do/ professor/a, podendo produzir, por exemplo, constrangimentos. Desse modo, o artigo contribui para o debate sobre a desnaturalização das questões de gênero na presença do humor como estratégia pedagógica em aulas de Ciências.