A ciência moderna foi historicamente estabelecida como atividade masculina, concepção mantida até o século XX, a despeito da crescente participação das mulheres nas atividades científicas. Considerando a importância dos livros didáticos na educação escolar, este trabalho investiga como os livros didáticos de ciências apresentam as mulheres nas ciências no recorte temporal 1980–2022. Foram contabilizadas em coleções didáticas de três grandes editoras brasileiras todas as citações textuais e imagéticas de mulheres e homens cientistas, e analisadas via semiótica peirceana as imagens das cientistas mulheres. Resultados apontaram incremento nas referências de mulheres cientistas a partir dos anos 2000, porém sempre em número muito menor que as citações de homens. A análise semiótica das imagens permitiu identificar quatro categorias de representação de mulheres cientistas: reais (imagens de cientistas devidamente identificadas); anônimas (fotografias sem identificação); fictícias (representações figurativas de personagens criadas) e ocultadas (imagens fotográficas/pictóricas de cientistas reais sem identificação nominal). Cerca de metade das imagens situa-se na categoria reais (49%); as demais distribuem-se em: anônimas (31%), fictícias (15%) e ocultadas (5%). Apesar da crescente presença de mulheres cientistas nos livros didáticos do século XXI, o baixo número de citações, assim como as formas como são apresentadas, colabora para a manutenção da concepção masculina da ciência.
