O presente trabalho propõe uma análise das relações de saber e poder na inserção do intérprete de língua de sinais na inclusão escolar dos surdos no ensino superior, com o objetivo de deslocar a atuação, normalmente técnica, do intérprete educacional, apostando no processo de encontro pedagógico e não apenas instrumental, numa relação educativa entre o intérprete e o estudante surdo. Para essa proposta, faço uma leitura teórica de autores que discutem a inclusão, no caso dos surdos, com a presença do intérprete, entendido como aquele que não deve substituir o professor, mas buscar ser seu porta-voz de forma fiel. Apresento também alguns paradoxos gerados nesse contexto: inclusão-exclusão; tradução-ensino. Como fundamento para a pesquisa, retomo o modo como a surdez foi inventada na sociedade, as produções de saberes e poderes sociais, as relações de invenção das normas e a emergência de sujeitos. No entanto, nesses jogos de forças, mostro as resistências e recriações que o sujeito (surdo, intérprete, professor) constrói ao longo dos movimentos históricos e das lutas, e discuto o ensino como efeito de acontecimento e saber. No caso da inclusão, penso que a resistência surda seja um efeito do movimento contra a normalização ouvinte-falante, em oposição às suas singularidades linguísticas, de natureza visual e gestual. É na criação da aula como acontecimento marginal, como ensino-acontecimento, que o surdo e o intérprete de língua de sinais educacional se permitem entrelaçar e fazer o ensino. Nessa falta de enlace entre aluno surdo e professor ouvinte, convoca-se o intérprete, e é nessa frustração simbólica instaurada pela falta de conhecimento linguístico por parte do professor ouvinte que a inclusão instaura paradoxos que, por sua vez, criam fissuras e interrompem rotas, através das quais o aluno surdo encontra também armas e possibilidades de inventar e produzir novas formas de aprender, também com o intérprete educacional.
This research proposes an analysis of the power and knowledge relations in the inclusion of deaf students in the university context, specifically focusing on the role of the sign language interpreter. The aim is to shift the usually technical role of the educational interpreter in favor of a pedagogical process, which is not only instrumental but also based on an educative relationship between the interpreter and the deaf student. To develop this proposal, I begin by carefully reviewing the works of authors who discuss inclusion in the context of deaf students, with the presence of the interpreter. The interpreter is understood as one who should not replace the teacher, but instead serve as a faithful spokesperson. I also present some paradoxes generated in this context, such as inclusion-exclusion and translation-teaching. For the theoretical framework, I explore the social construction of deafness, the production of knowledge and social power, the development of norms, and the emergence of subjects. In these dynamics, I highlight the resistances and re-creations enacted by the subject (deaf student, interpreter, teacher) in the course of historical movements and struggles. I also discuss teaching as an effect of the movement against the normalization of the hearing-speaker paradigm, in opposition to the deaf individual's linguistic singularities, which are inherently visual and manual. In the creation of the classroom as a marginal event, as a teaching-event, the deaf student and the educational sign language interpreter allow themselves to engage and create the teaching experience together.