Tendo como questão central problematizar o discurso da escola inclusiva como a forma mais eficaz de promover a universalização da educação, a atenção à diversidade e o acesso às formas ricas e estimulantes de socialização e de aprendizagem, este trabalho, com foco na inclusão escolar de surdos(as), buscou responder os seguintes questionamentos: como estão-se dando as relações entre surdos(as) e ouvintes na escola inclusiva, considerando-se a especificidade linguística desse grupo e o predomínio, nas escolas regulares, das manifestações culturais dos(as) alunos(as) ouvintes? Orientada por esse questionamento e com base na concepção de linguagem e de aprendizagem como processos sociais e dialógicos, de surdez como uma diferença cultural e dos(as) surdos(as) como indivíduos que se constituem como sujeitos na Língua de Sinais, a presente pesquisa, por meio de um estudo de caso de inspiração etnográfica (André, 2000), teve o objetivo de investigar os limites e as possibilidades das relações entre surdos(as) e ouvintes numa escola inclusiva da rede pública do município do Rio de Janeiro, que utiliza intérpretes de LIBRAS. As reflexões apresentadas baseiam-se em contribuições teóricas do multiculturalismo crítico (McLaren, 1997), da educação intercultural (Candau, 2002, 2003, 2005) e nos conceitos de identidade (Hall, 2000) e cultura (Geertz, 1989), que afetam a educação hoje, no contexto da globalização e do neoliberalismo. Em relação à educação de surdos(as), foram adotadas a concepção sócio-antropológica e a perspectiva bilíngue-bicultural, a partir de autores como Behares (1991), Skliar (1997) e Sousa (1998), dentre outros(as), assim como as contribuições dos Estudos Surdos em educação (Skliar, 1998, 2000; Perlin, 2000). Os resultados obtidos, por meio da análise de observações do cotidiano escolar e de entrevistas individuais e semi-estruturadas realizadas com os sujeitos dessa pesquisa – dez professores(as), dez alunos(as) surdos(as), dez alunos(as) ouvintes e sete intérpretes de Língua de Sinais – apontam para a necessidade de se refletir sobre as implicações negativas da inclusão de surdos(as) e a complexidade do papel do(a) intérprete na escola inclusiva. Ainda com base na análise de dados e no referencial teórico adotado, este estudo propõe encaminhamentos teóricos e práticos para aprofundar as discussões sobre a educação de surdos(as) numa perspectiva bilíngue intercultural, que, mediante a efetiva participação dos(as) surdos(as) em pesquisas, programas, projetos e nos diversos contextos educacionais dirigidos a esse grupo, possibilitem a construção de uma educação inclusiva que articule políticas de igualdade e políticas de identidade.