A dinâmica familiar e o impacto da deficiência auditiva têm sido objeto de estudos para conhecimento e orientação dos profissionais que lidam com a criança e a família. Neste trabalho é abordada a questão de como uma rotina para diagnóstico da defici-ncia auditiva poderia estar influindo nas atitudes e atuações dos pais, em, relação às providências a serem tomadas, visando a habilitação e a reabilitação da crian-ça. Foram descritos os procedimentos da rotina de diagnóstico de deficiência auditiva em crianças, adotados no Centro de Atendimen-to aos Distúrbios da Audição, Linguagem e Visão (Ceda/vi), do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (HRAC) da USP, em Bauru, SP, de acordo com relatos dos profissionais das diferentes especialidades. Foram também verificados, junto aos pais de 50 crianças com até 6 anos e 11 meses de idade, o entendimento e o seguimento das orientações transmitidas durante a rotina e três meses após o seu encerramento. Os resultados mostraram que os profissionais estavam preocupados com a situação da criança no seu meio familiar e social e, na maioria dos atendimentos, passavam informações para os pais sobre os procedimentos e os resultados, sobre as orientações relacio-nadas ao modo de agir com a criança no cotidiano e sobre os atendimentos que a criança deveria receber. Também relataram sua intervenção nas dificuldades e expectativas dos pais. Praticamente todos os pais tinham noção da deficiência auditiva do filho e mencionaram ter adquirido, na rotina, mais conhecimento e recebido mais orientações sobre as condutas a serem seguidas do que sobre o diagnóstico. No acompanhamento, os pais mostraram-se mais observadores quanto às atitudes auditivas e comunicativas do filho. Suas respostas indicaram que as orientações a respeito da conduta, em relação à criança e à vida pessoal e doméstica, foram tão importantes quanto aquelas relacionadas ao diagnóstico e ao AASI. A maioria dos pais estava seguindo as orientações recebidas, principalmente sobre a comunicação com a criança, e relatou melhora no comportamento comunicativo e redução dos problemas de comportamento da mesma. Com menor freqüência, devido à falta de serviços especializados nos locais onde moravam ou à falta de recursos para custeá-los. Os pais também relataram que estavam lidando e aceitando melhor a deficiência auditiva do filho e estavam mais tranqüilos e seguros. A fim de que os pais venham a ter maior acesso aos atendimentos recomendados, sugere-se o desenvolvimento de um trabalho de liderança com eles, instrumentalizando-os quanto aos direitos das crianças deficientes auditivas e quanto às iniciativas de cobrança junto ao poder público e à comunidade. Sugere-se também a descentralização dos serviços de diagnóstico, nos moldes prestados pelo Cedalvi, de modo que um número maior de casos possa vir a ser atendido mais rápida e efetivamente e que as famílias possam contar com orientações e apoio mais próximos.