EDITORIAL 11

Revista Espaço

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Telefone: (21) 2285-7546
ISSN: 25256203
Editor Chefe: Wilma Favorito
Início Publicação: 31/12/1989
Periodicidade: Semestral
Área de Estudo: Educação, Área de Estudo: Letras, Área de Estudo: Linguística, Área de Estudo: Multidisciplinar

EDITORIAL 11

Ano: 1999 | Volume: Especial | Número: 11
Autores: Solange Rocha
Autor Correspondente: Solange Rocha | [email protected]

Palavras-chave: Educação de Surdos

Resumos Cadastrados

Resumo Português:

Globalização e exclusão. A gente nunca vai para um fato nu. Somos sujeitos.Sujeitos e produto. Produto de um somatório de elementos que nos compõe,que compõe nossa totalidade possível.Sujeitos a idéias,comportamentos,criações. Sujeitos a alteridade. Nada é atoamente acontecido. Se atoamente acontece, já estamos sujeitos a ela. Construímo-nos a cada átimo de segundo.A cada átimo de segundo somos outros. Heráclito e a dialética (Um homem não mergulha duas vezes no mesmo rio. Ao mergulhar novamente as águas serão outras e ele também) talvez aqui imagina da mais radical, mais decomposta,mais atímica,mais recente e contemporânea dessa nossaa ldeia efêmera. Parece que tudo está de passagem.Tudo parece envelhecer tão rapidamente que,ao tocar um objeto num toque,é percebido seu sentido embrionário e terminal.Tempo de todas as coisas.Tempo de tudo.O raciocínio e o espraiamento do cotidiano giram como ferraris a 500 Km/hora.Onde fica a emoção?Onde fica aquilo tudo que faz parte do todo e não fragmenta? No corpo perplexo que transita por mil imagens(em quem as podem ver)que transita por mil sons(em quem os podem ouvir), mil cheiros, mil toques, mil tudo.Tudo está interligado,como já dizia o sábio Apache.Tudo move tudo. Quando é que paramos?Perplexos estamos diante da inevitabilidade desses tempos.Quem pode tanto? Tantos somos que nem conta damos.Para onde vamos?Vivemos drogados e não sabemos.Overdose de informações.O que fazer com tantas? Nos drogamos a cada esquina,a cada ato, a cada vão silêncio,a cada gesto de amor contido. Vivemos os objetos desejados. A felicidade num par de tênis.Que coisa inquietante é a midiatização dos nossos desejos.O que somos?Símios atordoados,bando primitivo.Antropófagos indiretos. Autofágicos.Movemo-nos estonteantes em direção ao nada. Como nos perdemos?Adultera-se o que é sagrado. Banaliza-se a rosa e vendem-se os espinhos.Vendem-se sim. Altera-se um princípio e faz-nos desejar um espinho.Estamos mergulhados em detritos milenares.Mergulhamos no diálogo travado entre Montezuma e os espanhóis.Mergulhamos na velhaca intenção inglesa de libertar os africanos da condição de escra-vos no Brasil do seculo XIX. Eles, os ingleses, já os viam como mercado potencial. Isso a que estamos reduzidos hoje.A criança suja na rua já é nossa inimiga. Somos sua presa fácil. Somos a possibilidade dela Ter o que comer.Tribos bárbaras,tribos nômades povoam as ruas,inclementes.Por ondevaia fraternidade?Consumimos excessos e pagamos nas ruas.O que educar,o que construir nessas tribos e em outras tantas que estão fora do projeto neoliberal?Qual a escola e o currículo viável nesses tempos?Para o Homem-mercado,quanto vale uma equação do segundo grau?Quanto vale o Império Romano?Quanto vale a hipotenusa?Quanto vale mas metáfora se metonímias?Quanto vale matizar um quadro?Quanto vale o segredo de uma rima?Quanto vale o vale dos riosTigre e Eufrates?Quanto vale a hiperestesiado poeta?Quanto vale a maçã,as duas,a docientista e a de Eva? Quanto vale o ensino.Quanto vale a escola?Quanto vale um par detênis?Quando um adolescente na rua,atropela sua própria fome e cede aos encantos de um par de tênis,  o que pensar?Tira-o a fórceps de outro adolescente abastado. As vezes mata.Mata não pelo pão, mas para apoderar-se de um bem simbólico de uma cultura que ele tenta desesperadamente alcançar.Para ele, não há mais tempo de cuidar da pele manchada,do dentes estragados,da alma ferida.Corre atrás de um nivelamento ditado pela globalização dos costumes,que alguma marca irá resgatá-lo,redimindo-o e entronizando-o nos rituais do bem simbólico.A rua nos aponta nosso fracasso.A agudização dos conflitos sociais nos dá inúmeras pistas do nosso fracasso.O Homem está vivendo o auge de sua descartabilidade.Os excluídos estão nas ruas e nós trancados em casa. Prisioneiros de parcos alcances.Cúmplices e vítimas das nossas pequenas omissões.A tecnologia que tanto nos encanta,que faz-nos brincar de mundo, também viabilizou a guerra pelos botões.O Homem não enfrenta mais o Homem,a tecnologia faz a mediação. Entretanto,as cidades e os campos estão povoados de gente.Gente cujo teto é o firmamento e o chão a própria terra.Gente criança, velhos, jovens e adultos. Gentes e demandas.Casta de excluídos que estão longe das tecnologias, mas que se fazem presentes e começam a incomodar.