A maneira com que Michel Foucault escolhe traduzir e citar os textos cristãos dos séculos II e III, em seu curso no Collège de France, Do governo do vivos (1980) leva-nos a refletir sobre certas práticas de tradução no campo da filosofia contemporânea: práticas que envolvem uma certa concepção das relações entre pensamento e léxico. Para muitos filósofos, levados hoje a ser não somente comentadores, mas também tradutores, a tradução parece ser uma atividade tecnicamente difÃcil, mas relativamente simples em seus princÃpios: trata-se de estabelecer - ao menos para os textos que apresentam um pensamento organizado - o léxico mÃnimo que deve sempre ser traduzido de modo idêntico, a fim de preservar a regularidade de aparecimento dos conceitos.