Dos cinco sentidos do homem1, o paladar teve uma história única. Por um lado - como procurarei mostrar aqui - foi reconhecido como o principal meio de conhecimento da realidade. Por outro, foi desprezado, colocado em uma posição ‘baixa’ na escala geral de valores.
Na história da cultura ocidental, no entanto, desde a época antiga, delineou-se uma espécie de hierarquia que distinguia os sentidos ‘altos’ (a visão e a audição), dos ‘baixos’ (o tato e o paladar), e o olfato em posição intermediária.
De um lado, os sentidos ‘limpos’, por assim dizer ‘intelectuais’, que mantêm uma distância entre o sujeito e o objeto; do outro, os sentidos ‘sujos’, ‘materiais’, que requerem – com modalidades diferentes – um contato fÃsico com o objeto.
No princÃpio, havia um antigo preconceito contra o corpo, tÃpico da
cultura ocidental, ao menos a partir de Platão. O preconceito foi reforçado e
consolidado pelo cristianismo que, após ter inventado a ideia de pecado, a
uniu juntamente à natureza corpórea do homem, construindo a utopia de um
homem espiritual, o mais desprendido possÃvel dos instintos e dos interesses do corpo.(...)